FAMINTO PÓ
Eu sei que morro sozinha
Mas morro nua sem pena
De mim dos pós que me
Cobrem o corpo em mim
Nua faminta a terra espera
Enquanto corrói, rói o negro
Véu já cerzido intacto, frio
Ungirás de óleo o meu corpo
Lavarás os meus lábios puros
Soprarás a poeira dos meus pés
Nada é medo, basta o silêncio
O despertar arrefece, vira agonia
Jogo escuro, grito de desespero
É a morte talvez o engasgo da vida
Eu já sei que morro sozinha, mas
Morro coberta de pós de alecrim.
Isabel Morais Ribeiro Fonseca
Aldeia Salselas-Trás-os-Montes